quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Vuuuuuush!




Hoje ouvi um som ímpar. O som do vento. Esse som melancólico, de uma alma que passa e não fica. De lembranças que se esvaem ao sabor do tempo, dos minutos, das horas.

Ouvi o vento. Eu ouvi o vento!

Ouvi-o quando beijou meus cabelos, e num gesto meigo, levantou-os.

Ouvi esse vento, esse singelo amigo, que refresca as nossas tardes, e esfria as nossas noites.

Vento, vento, seja bem vindo ao meu mundo sonoro!

Espero ouvir-te mais vezes, por favor, seja meu companheiro!


Triiiiimmmmmm....

Assim vem sendo meus dias... uma espera pela próxima descoberta.

E a próxima descoberta foi:

O barulho do telefone. Gente, que som mais irritante! Digo, quando ninguém atende o telefone! E ele fica ali, berrando, berrando, berr.... vocês sabem como é!

Estava eu ali, sossegada no trabalho, quando de repente... TRIIIIMMMM........ TRIIIIMMMMM.......
Levanto a cabeça. Na mesma hora penso: " Telefone! "
Fico tão feliz com a descoberta! Mas a felicidade durou pouco. Ninguém queria atender o telefone. E aquele som, tão comemorado, virou um desejo mórbido de quebrar o telefone na mesa de qualquer pessoa que teria o poder de atender.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Piú, piá, pie, piu, piáá

Eis que eu estava com meu namorado, perto da janela, conversando. Pois bem. No meio do bem-bom da conversa, ouço algo aproximadamente assim:

Piúu
Piáá
Piááá
Piuuuuuuuuu
Piiiiiiiááááá

O som do que ouvi é aproximado, pois não consegui pegar bem a onomatopéia. Explico: Como recém fui ativada, cada semana devo mudar os programas do meu IC para receberem mais sons e frequências sonoras. Estou no antepenúltimo programa. Ainda não é possível discernir bem os sons. Mas vez ou outra eu levo um sustinho básico com algo que, ou reconheço, ou percebo.

Bem, caros leitores e leitoras. Levo um susto com tantas "piadas". Olho para meu namorado, que está calmamente ao meu lado. Ele não se assustou, o que queria dizer que o som lhe era familiar.

Perguntei a ele.
- Carlos, que som infernal é esse?
- Como é o som? - Ele pergunta.
Imito os sons que estava ouvindo.
- Ora - ele responde - é o canto dos passarinhos!

Eita. Mas que cantoria infernal! Cantavam em corinho, tudo desafinadinhos, um sonzinho diferente do outro. E não, não achei lindo. Queria mesmo era sair da janela, me atirar na árvore e balançar até todos os passarinhos irem fazer o circo em outro lugar.

Hihihi




domingo, 21 de setembro de 2014

IC Poético

IC, tu és minha vida, 
Minha sublime alegria 
De ouvir e entender 

 És parte da minha alma, 
Traz-me a brisa que acalma, 
Tu és metade do meu ser 

 IC, tu me unes intimamente 
 Às pessoas iguais à mim: 
Traz-me elas, docemente! 
Faz-me ser mais que somente
Um ser simples assim.

Cada som é uma música!

Cada dia tem sido assim. Redescobrir os sons que a vida faz. Como uma melodia comporta muitas notas musicais, assim tem sido, percebo, o cantarolar do mundo. Eu e meu IC, de mãos dadas, como duas crianças, estamos a desvendar os segredos dos sons terrenos, compostos por muitas e muitas notas musicais. Hoje eu e meu IC, descobrimos um som novo. Estava eu indo para minha mesa de trabalho quando ouço algo parecido com batidas na parede. Viro-me rapidamente, na direção do som que soprou em meus ouvidos como a dizer "olha eu aqui". Acedi ao doce convite e procurei o som. Era um colega batendo com a chave na parede. Sorrio intimamente. Eu e meu IC, vivenciamos hoje, mais um som. Vivenciamos hoje, a redescoberta de que, não importa quão simples seja, cada som é uma música!!!

Toc, toc, toc...

Estava eu, quietinha no meu canto, embalada pelos sons do teclado que agora ouço melhor, devido ao avanço do programa do implante. Já não me imagino sem os tec tec , sem o barulhinho do folhear os papéis, sem o som do meu suspiro. E nesse estado de espírito, escuto um sonzinho constante toc toc toc. Meu ser inquieta-se: de onde vem o som? Procuro com o olhar. Ansiosa, na expectativa do que eu vou descobrir. Toc toc toc Meus olhos são guiados pelo instinto, bendito sentimento que Deus nos concedeu: e ali, um pouco distante de mim, uma colega pisa firme com duas botas, andando. Toc, toc toc. Esse é o som do seu andar. Achei tão lindo que tive de segurar a vontade de pedir-lhe para não parar.

Primeiras descobertas de IC

Eis que estou conversando conversando com meu namorado, quando, um barulho irritante tipo toc toc toc começa. Digo a ele que estou ouvindo algo do tipo, e ele diz que é o martelo da construção ao lado! Como teste, ele pegou o violão e dedilhou algumas linhas. Alguns sons eu peguei, outros não. Está tudo agudinho, parecem grilinhos! Mal vejo a hora de os sons graves serem abertos no meu IC, e assim captar mais e mais, redescobrir mais e mais, como cada som é uma música! Eu amo meu IC!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A opção pelo IC!

Em 30 de Julho eu renasci para o mundo dos sons.
Decidi-me pelo implante coclear, IC, depois de muito lutar comigo mesma. Sou surda desde os 3 anos de idade. Aprendi a falar por persistência de minha mãe. Como gostava muito de ler, isso acabou por me ajudar a conhecer as palavras que jamais ouviria.

Foi uma ansiedade!

Quando chegou o sonhado dia, eu estava tranquila. O Carlos, meu namorado e minha melhor amiga, Karina, foram comigo ao hospital. Hihihi tiveram de me aguentar.

Mas até aquele dia, a ansiedade me dominava. Pois eu pensava em questões como Identidade Surda, Cultura Surda... Ora, eu não era parte integrante desse mundo, eu não havia abraçado a LIBRAS como minha língua?

Então percebi que as coisas não são preto no branco.

Sinto saudade do som, pois escutei até os 26 anos com AASI (aparelho auditivo ) no ouvido direito, pois no esquerdo não escutava nada.Quando cheguei a essa idade, perdi todo o residual auditivo. E antes que me perguntem, a causa da minha surdez é desconhecida. Fiquei eu só com meu tinitus, ou zumbido, a soar em meus ouvidos, todo dia e toda noite.

Eu amo os sonzinhos. Mesmo que escutasse pouco, eles eram alguma coisa - transportavam-me para a felicidade, para alegria, para o canto do mundo.

Que ser nesse mundo, quer se privar da alegria do som, tendo o conhecido, tendo o experimentado?

Tão doce como o amor, uma vez que você ama, você não vive mais sem. Pode até não ter a pessoa amada, mas você quer amar, quer se sentir amado, quer viver o amor.

Eis pois, eu.

Queria tanto ouvir, experimentar o som,  que optei pelo IC.

Não para deixar o ser " Surdo".
Mas resgatar os benefícios do som.

Acordei bem, no hospital. A cirurgia durou duas horas. Todos os 22 eletrodos foram inseridos. Quando saí da sala de recuperação para o ir ao quarto, vi meu namorado e a Karina ali, à minha espera. Quando os vi, eu quis chorar. Quis chorar porque do apoio deles partiu toda a minhaq força. Sem eles, eu não teria chegado até aqui.

O aparelho destinado a mim foi o Núcleus 5.

IC, seja bem vindo à minha vida.

Vamos juntos, eu e você, meu IC, caminhar pela descobertas dos sons?

E com seu consentimento, dia 15 de Outubro,  você foi ativado.

Levei uma trupe junto. Meu namorado Carlos, sempre presente, e minhas amigas: Karina, Karla e Vicky. Estavam todos na expectativa do meu renascimento.

Claro que eu me atrasei. Ao invés de ir para a Politec, que era onde iria ativar, fui para um centro de plásticas. Plásticas. Como se eu precisasse rejuvenescer. Tá certo, até preciso, hihihi.

Equívoco resolvido, pois estava no andar errado, achei a fono Adriana. Que mulher paciente e gentil!

E a ativação começa!

Se divirtam com minha surpresa! Tudo que ouvi no início, foi pipipi!


Tive de registrar tal momento glorioso!






quinta-feira, 8 de maio de 2014

No silêncio, por enquanto!

No Silêncio. Assim que eu tenho definido a minha vida, como um eterno estar no silêncio. No entanto nem sempre foi assim. Meu nome é Vanessa, tenho 31 anos. Desde os 3 anos, sou surda. A causa, ninguém sabe. Usei aparelhos auditivos até os 26 anos, quando perdi toda a audição. Desde então tenho tentado me acostumar ao silêncio, sem sucesso, admito. Barulhos como os do vento, da chuva, da risada das pessoas sumiram de meus ouvidos mas continuam em minha mente. Quero muito voltar a ouvir. Esses dias fui testar um aparelho tendo a esperança de ouvir alguns sons novamente. Mas tudo o que ouvi foram minha própria voz e alguns barulhos. Nada mais. Silêncio. Mas ter ouvido minha voz...me levou às lágrimas. Quem sabe o que me espera? Voltarei a ouvir um dia?

Falei com meu namorado Carlos, sobre isso. Sobre o desejo de ouvir, e como existia essa cirurgia de implante coclear. Ele me deu o maior apoio. Ele me incentivou. Disse-me que deveria tentar e ficaria ao meu lado.

Hum...

Será? Será que o IC me devolverá ao mundo dos sons?